
-acho que viver é desenhar sem borracha.
-acho que viver é desenhar sem borracha.
''Foi para ti que desfolhei a chuva. Para ti soltei o perfume da terra,toquei no nada e para ti foi tudo. Para ti criei todas as palavras e todas me faltaram no minuto em que talhei o sabor do sempre. Para ti dei voz às minhas mãos,abri os gomos do tempo,assaltei o mundo e pensei que tudo estava em nós,nesse doce engano de tudo sermos donos sem nada termos."
-Palavras ditas em silêncio.
Ultimamente tem andado tudo muito indiferente para mim.
São só pessoas árvores,carros,casas,prédios e animais. Mais nada meros substantivos.
Já nem os adjectivos chegam a ser realmente utilizados. Não preciso de descrições. Só o básico.
Os dias na escola tem sido como o próprio nome indica só dias. Só dias na escola. Daqueles chatos e aborrecidos,com alguns sorrisos pelo meio,com pessoas que não gostamos e fingimos gostar (ou não) ou com aquelas pessoas que gostamos demasiado,com felicidade fingida e pura.
Com um pouco disto e daquilo. Tudo isto é uma antítese.
E sabem? Sinceramente não me preocupo.
Não são precisos floreados nem enfeites para embelezar o essencial, nem para viver a vida.
Vem. Não tenhas medo. Chega-te só mais um pouquinho. Deixa-me pegar na tua mão,e ver-te sorrir. Só mais uma vez. A ultima vez. Depois eu sigo,não te chateio mais,mas dá-me esta oportunidade. Quero sentir num instante o aroma do teu perfume e perder-me de vez nesse olhar. Vem. Estou mesmo aqui. Fala baixinho. Não queres ninguém a ouvir. Vem ter comigo. Não tens saudades ? Eu gosto tanto de ti. Eu estou tão perto de ti. Não vás embora,sim ?
-Sei que não estás aqui porque não podes,sei que tens imensas coisas para fazer mas desde que chegaste que não poder e não querer se tornaram sinónimos.
Não poderes estar comigo significa exactamente o mesmo de não quereres.
Hoje,quem não pode algo,quem não quer algo, sou eu. não te quero aqui,não te posso ter aqui..
Saber que estás tão perto mas ao mesmo tempo tão longe abre-me um buraco no peito,faz-me mal,faz-me sofrer quero-te longe,bem longe, assim mantenho a fantasia de que gostarias estar comigo,mas o imperativo da distância não o permite. Saber que estás aqui faz-me ver a realidade e esta é uma realidade da qual sempre fugi.
Por isso,saí daqui..vira as costas de uma vez por todas e vai..fica longe,por favor muito longe.
-Fiz de mim o que não soube.
-cruzado no meu caminho,que um dia significaria.
Numa perspectiva esporádica,livre de contestações diria que este diário é um acumular de ausências forçadas e devastadoras num universo singular,inocente e sem pó das estrelas,interpretar o mundo que nos rodeia torna-se a cada minuto mais difícil.Às ausências forçadas,o meu sorriso emocionado e orgulhoso,por um dia terem passado no meu caminho e terem deixado tudo,deixaram tanto ao ponto de eu não me conseguir desvincular de vocês.Outras ausências vão aparecendo entretanto,ausências essas oscilantes e irregulares,incapazes de manter o registo.
A essas ausências,o meu obrigado por um dia se terem cruzado no meu caminho,mesmo que não perdurem hoje,sei que um dia significaram algo.Sinto que agora é outro tipo de ausência que se aproxima da costa e quer desaguar,uma ausência diferente das que já vivi e portanto,além de nova,revela-se um pouco assustadora..não focalizando somente o que o presente nos dá,hoje até penso um pouco no futuro,enquanto que em passagens anterior está latente o meu desejo oprimido de reafirmar o passado. Hoje não me arrependo do passado.tenho medo do presente e assusta-me ainda mais o futuro,mas o estranho é que nem me sinto muito mal..
Eu dava tudo para voltar atrás no tempo,só para viver certos momentos outra vez,só para por minutos,sentir aquela felicidade própria do momento e ter aquele pensamento de "não quero que o tempo avance".Sabe tão bem..
Mas o tempo avança,o momento acaba por chegar ao fim,só restam duas coisas:a recordação de um momento perfeito e a ambição de conquistar momentos tão bons ou melhores que esse.
-there will always be tomorrow, but you have to live today.
É a verdade,eu pretendo levar um estilo de vida extremamente contestável..já me contestam por perceberam que sou assim,e ainda mal me fiz à vida..sabem que sou materialista e que vivo para uma caixa que faz barulho e tem ligações lá dentro,porque sei dar um sorriso quando me apresento a alguém ou porque sou educada? Não é tudo parece que sou invejosa em todos os meus actos e consigo magoar tudo o que me rodeia,e vou perdendo tudo aos poucos,como uma criança perde as peças de um puzzle,mas são coisas da minha cabeça.
Gostava de ver os meus pais orgulhosos de mim,pelo que me estou a tornar..mas eles não têm de que se orgulhar..orgulham-se de quê,verdadeiramente? De ser cobarde o suficiente para escrever lamechices todos os dias num blog para a pessoa que mais me importa neste momento e não ter coragem de lhe dizer a verdade? De ser trabalhadora por passar horas a fio num blog enquanto podia estar com eles a ver um filme? De ser preguiçosa por estar em frente a um computador enquanto a minha mãe arruma a casa? Por ter as excelentes notas que não tenho? Por ter a merda de vida social que tenho? Por ter um conjunto de amigos que também não tenho? Por fingir que sou feliz? Orgulham-se de quê?
Tenho uma melhor amiga,não tenho quem venha comigo no autocarro e ando sempre com pessoas diferentes nos intervalos,não tenho namorado porque a pessoa que mais necessito não me quer,e não tenho alguém que me dê um abraço apertado em momentos como estes,que estou desfeita em lágrimas..porque é a verdade,e a verdade dói.
E porque no futuro posso estar na América ou em Inglaterra,com um bom emprego e num bom apartamento,mas vou estar sozinha..e sem ninguém que me dê um abraço quando preciso,tal como agora.
Sabem,estou numa fase passiva,por mais que tenha de dizer ou escrever contento-me a ouvir e a ler situações das outras pessoas e a tentar encontrar-me nos seus pontos de vista,procurando-me nos seus caminhos de vida já por mim pisados ou apenas procurando significados e soluções para o meu presente e futuro incertos..talvez esteja assim porque o que eu tenho para escrever já tenha sido escrito num passado demasiado próximo e o que eu tenho de dizer já tenha saído milhares de vezes dos meus lábios antes,talvez esteja cansada de todas as charadas que já tentei desvendar..eu sei que o que eu estou a passar agora já passei à pouco tempo,quase exactamente a mesma situação,e que agora,talvez não veja o sentido de escrever em cima de palavras gastas já muitas vezes sublinhadas..sei que este meu presente quase de certeza pode levar-me a um futuro emocional não muito promissor,mas para mim a sua profundidade já se tornou quase superficial..não me apetece,não quero sofrer por coisas já sofridas,para mim já esgotaram a sua validade de sofrimento e aprendi a minha lição com elas..talvez esteja a falar cedo de mais,mas não vou,não quero sofrer tanto como no passado,não vou,não quero.
Mas sei que há mais profundidade nisto do que eu penso e que para qualquer caminho que isto percorra,vai-me levar a magoar os pés nas pedras afiadas novamente e abrir as feridas semi-saradas do passado..eu já sei e já sabia..só espero cautelosamente por elas sabendo que não as poderei impedir,não estou muito mal por agora, talvez se fosse há uns meses atrás estaria muito mal,mas no futuro irei estar mal novamente,mas um dia eu irei ser muito feliz. E vou ultrapassar tudo,isto é só um teste para me tornar mais sabia e forte.
Eu dava tudo para voltar atrás no tempo..só para viver certos momentos outra vez,só para,por minutos,sentir aquela felicidade própria do momento e ter aquele pensamento de "não quero que o tempo avance"..sabe tão bem ...
Mas o tempo avança,o momento acaba por chegar ao fim,só restam duas coisas:a recordação de um momento perfeito e a ambição de conquistar momentos tão bons ou melhores que esse. Ah!, e claro..o sentimento,mas esse está sempre,está tão presente que já passa despercebido,o sentimento já faz parte..aquele sentir que se chama amor e faz dos nossos dias mais coloridos..a ponte de ligação entre a tua alma e minha.
-Tu és tudo para mim,tudo.
há quem beba para esquecer eu canto para recordar e guardar na minha caixinha de recordações..
aquilo de que me recordo,é do mundo perfeito que tinha.
O que é que eu faço aqui afinal?
Nasci para recordar o passado e suspirar por aquilo que já passou?
Que se passa afinal!?
Tenho de arranjar aventuras e não recordar o passado..
Tenho de arriscar
Porquê que me sinto assim?
Só eu sei pelo que estou a passar
-Decerto que não estou muito inspirada hoje,assim como em alguns dias mas principalmente hoje.
E escuta o mar,o vento, as aves e os animais no mato e ouve a toada do seu coração..p
orvezes o oceano,em tons turquesa,esmeralda,água marinha,parece convidá-la a ousar..e
todavia existem pormenores que conspiram para que ela recuse esse chamamento,o desenho das nuvens,a forma de uma concha mais brilhante na areia molhada,o foco do farol,o voo das gaivotas..n
a alma, a imagem ambígua de um homem que amara,amara tanto,nas suas ansiedades obsessivas,nas suas dúvidas roucas,no desamparo com que ele se aninhava nos seus braços depois de horas de discurso concêntrico..falta pouco para a partida do seu amado,l
evanta-se e pensa no dia seguinte,que apesar de ter perdido fome e sono,é necessário “ir vivendo”..o
lha a TV,sempre desligada, e para o seu peluche..s
egurando o bloco,desenha uma boneca sorridente,com laços enormes nos cabelos e um ramo de flores nas mãos..s
uspirando, retira de um saco o seu telemóvel para ver se lá tinha alguma mensagem dele,mas nada..
amanhece,deita-se um pouco no sofá e adormece sonhando com uma criança inexistente cujo sorriso se parece com o dele..a
o levantar-se,tira do armário uma caixa azul de cartão e respira fundo..faltam poucos dias para a partida,e nesse instante descobre-se,sorrindo timidamente,numa serenidade nova..l
iga a TV,e brutais imagens de incêndios no seu país interpelaram-na violentamente..vê a dor resignada do seu povo,vê o medo,vê a destruição..d
urante os dias em que se retirara do mundo tantos dramas tocaram as pessoas e ela,obstinada,na sua altivez trágica,trancara a alma a qualquer ruído ''mais distante''..e
lembra-se de si própria,d
o seu rosto,d
e que tem braços para embalar,m
ãos para acariciar,v
oz para partilhar vivências e sonhos,e
que a sua força é vital para si e para quem ama,v
este uma camisa de noite branca e,já adormecida repete o gesto tantas vezes desenhado o braço dirigido para a almofada ao lado da sua,a mão estendida, os dedos flectidos,procurando o rosto dele..e estremece quando se descobre só..mas,numa voz subitamente enluarada murmura um excerto de uma canção:"Depois de te perder te encontro com certeza talvez num tempo da delicadeza onde não diremos nada,nada aconteceu apenas seguirei como um encantada''
sorri e adormece